LIÇÃO 4 – COMO JESUS PERDOOU |
Pr.
Samuel Muniz Bastos
Pastor distrital em São Luís, MA
"Aqueles a quem mais perdoou mais O hão de amar,
e mais próximos de Seu trono se hão de achar, para O louvar por Seu grande amor
e infinito sacrifício." Essas palavras de Ellen G. White em seu livro Caminho
a Cristo, pág. 36, podem muito bem ser aplicados à vida do paralítico, de
Pedro, de Maria Madalena e de muitos outros que receberam a graça do perdão de
Deus na pessoa de Cristo.
Na lição desta semana veremos alguns
"perdoados" e como Jesus os perdoou, mas antes de falarmos de
"como" é necessário antes dizer "por que" Ele perdoou.
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou
Seu filho, ou melhor Ele não só enviou, Ele estava junto. "Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas
transgressões..." (II Cor. 5:19, conf. João 10:30; 14:9 e 10).
Jesus é a plena revelação do caráter de Deus no meio
deste mundo. Ele foi a palavra da criação no princípio (João 1:2 e 3) e Se
tornou a palavra da recriação em carne e osso, após a entrada do pecado. Como
"palavra criadora" andando entre os homens (João1:14). Ele criou do
caos pecaminoso e do vazio de esperança, novas vidas, novas criaturas. E nesse
processo, o perdão outorgado por Cristo foi a força motriz para reerguer a
saúde, a auto-estima e a espiritualidade do ser humano.
De um modo ou de outro tudo que Jesus realizou
cumpriu Sua missão de ser o Deus perdoador em carne humana.
É maravilhoso saber que Deus pode até ter outras
palavras para outro mundo, Sua palavra é Cristo.
A atitude de Cristo em perdoar, é o transbordar do
amor de Deus pelas mãos de Seu filho amado.
O PERDÃO DO PARALÍTICO
O episódio da cura do paralítico é rico em
ensinamentos e lições que nos ajudarão muito a compreender melhor o caráter de
Deus.
Em primeiro lugar, vemos a bondade de Deus.
Essa bondade fica em relevo quando analisada à luz do pensamento que a doença
era um testemunho do desagrado divino. Doenças como a lepra eram consideradas
um juízo sobre o pecado. O cego de nascença é visto sob suspeita de ter pecado
e recebido a cegueira como resultado (João 9:20), pois, Deus castigava em
proporção exata com a gravidade da culpa.
Havia até opiniões rabínicas segundo as quais a
criança podia pecar no seio da sua mãe, e defeitos corporais congênitos às
faltas dos pais.
Essa mentalidade era fruto da interpretação
defeituosa de Êxodo 34:7 ú.p.: "e visita a iniqüidade dos pais nos filhos
e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração." (conf. com Êxo.
20:5; Núm. 14:18; Deut. 5:9; Jer. 31:29 e 30).
Essa compreensão causava uma distorção no bondoso
caráter de Deus. Mas Cristo veio ao mundo para ser entre os homens a realidade
do caráter de Deus e de certa forma corrigir esses pensamentos sobre a
Divindade.
Na cura do paralítico, a atitude divina lança por
terra todo o pensamento de que Deus exclui os pecadores à sua própria sorte, e
mostra a imensidão da bondade de Deus. Diz a mensageira do Senhor: "Oh!
maravilhoso amor de Cristo, inclinando-se para curar o culpado e o aflito! A
Divindade compadecendo-Se dos males da sofredora humanidade, e suavizando-os!
Oh! maravilhoso poder assim manifestado aos olhos dos filhos dos homens! ...
Quem pode menosprezar as misericórdias de tão compassivo Redentor?" – O
Desejado de Todas as Nações, pág. 269.
A Divindade revela-se em bondade na obra de Cristo de
perdoar e curar o paralítico.
Em segundo lugar, Jesus revela os atributos divinos
de Onipotência e Onisciência para beneficiar o homem. Como Salvador, Jesus
demonstra que Seu poder está acima de tudo que aprisiona a humanidade. O mesmo
poder que Ele usou na criação, Ele agora usa "para restituir a saúde
àquele decadente corpo. A mesma voz que comunicou vida ao homem criado do pó da
terra, transmitiu-a ao moribundo paralítico." – Ibidem, págs. 269 e
270.
A onisciência de Cristo sonda que a necessidade
principal do paralítico não é cura física e sim perdão, o alívio do fardo do
pecado. Ao mesmo tempo, Jesus lê o que se passa no coração dos escribas, quando
cogitavam interiormente sobre a suposta blasfêmia de Jesus: "Por que
arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?" (Mar. 2:6-8). Essa não é
uma demonstração aleatória de atributos divinos, é antes a mobilização de Deus
numa operação salvadora, usando o que Ele tem e é para o reerguimento do homem.
E isso inicia com o perdão.
Em terceiro lugar, o paralítico é restaurado. A
mensagem da palavra "restaurado", tem um alcance além da letra.
Vejam, como revelador de Deus, Jesus faz uso de uma
prerrogativa divina para iniciar a restauração do paralítico – a de perdoar.
O perdão de Deus restaurou o paralítico emocionalmente.
A sua auto-estima havia se deteriorado. Talvez olhasse para si mesmo como um
trapo. Sabia que estava sofrendo por causa de uma vida desregrada. Quando Jesus
o perdoa, olha-o nos olhos e dá-lhe uma nova perspectiva, ele percebe sua vida
tomando novo alento. "O fardo do desespero cai da alma do doente;
repousa-lhe no espírito a paz do perdão, brilhando-lhe no semblante." – Ibidem,
pág. 268.
A restauração física proporcionada por Jesus,
abre o caminho para a restauração social. Não haveria mais a idéia de
que aquele homem sofria o desagrado divino, pelo contrário, sua cura miraculosa
era um sinal notório da apreciação do céu pelo homem. Ele estava reintegrado à
sociedade e não mais era alvo de preconceito.
Restauração espiritual. "Aquele que, na criação,
‘falou, e tudo se fez’, ‘mandou, e logo tudo apareceu’ (Sal. 33:9) comunicara
vida à alma morta em ofensas e pecados. A cura do corpo era um testemunho do
poder que renovara o coração." – Ibidem, pág. 270.
Aquele paralítico é um exemplo de que também hoje
existem milhares de pessoas vítimas de sofrimentos físicos causados pelo peso
do pecado sobre sua mente. O desassossego, stress, insatisfação,
ansiedade, culpa, consciência culpada, afligem a mente, tornando-se o
fundamento de suas doenças.
Mas, "Jesus Cristo, ontem e hoje é o mesmo e o
será para sempre" (Heb. 13:8). Nunca perca a chance de ir a Ele, quer seja
por conta própria, ou carregado por outros. Ele quer te perdoar e restaurar a
tua vida.
PERDÃO E AUTO-ESTIMA
Dentre os escritores do Evangelho, Lucas de fato, é o
mais interessado em mostrar como Jesus tratava as pessoas dos mais variados
grupos que havia na época. Seu evangelho tem uma totalidade social muito forte.
Ele mostra Jesus em contato, restaurando, pregando e perdoando os que eram
rejeitados e proscritos. Lucas dá um lugar de honra em seu livro a pessoas que
nem se quer são mencionadas nos outros evangelhos.
Por exemplo, seu relato começa colocando os pastores
como receptáculos do anúncio celestial do nascimento de Jesus (Luc. 2). Esta
era uma profissão mau vista. Lucas coloca uma mulher como personagem em uma
parábola (Luc. 15:8-10); Apresenta Jesus aceitando Maria como discípula, o que
era considerado ilegal pelos rabinos (Luc. 10:39); É o único que apresenta Zaqueu
o odiado publicano (Luc. 19:1-10); É também o único evangelho no qual Jesus
aparece colocando um odiado Samaritano como herói em um de Seus discursos (Luc.
10:25-37).
Talvez por ser gentio (Col. 4:10, 11 e 14) e médico,
uma profissão depreciada pelos Judeus, sentiu, a dor do menosprezo e escreveu
esses relatos e advertências para os cristãos, de que em Cristo não há
separatismo (Gál. 3:26-28).
No livro de Lucas, Jesus é um libertador. Lucas dá
muita relevância à palavra "liberdade". O sermão que mostra o esboço
programático da obra do Messias e da era da salvação, gira em torno de
"Libertação" (Luc. 4:16-19). O tema de libertação em Lucas é
apresentado sob três aspectos:
– Libertação do poder de Satanás (Luc. 4:31-44)
– Libertação do pecado (Luc. 5:1-11)
– Libertação das tradições cúlticas (Luc. 5:33-6:11)
É no contexto da libertação dos pecados que Pedro
entra em cena. A lição aborda a questão da auto-estima. Antes de falarmos sobre
o pecado de Pedro, vamos ver por que a auto-estima de Pedro estava em baixa.
O que a mensageira do Senhor diz a seguir esclarece a
razão da auto-piedade da Pedro:
"... Pedro estava desanimado. Toda a noite não
apanhara coisa alguma. Durante as solitárias horas, pensara na sorte de João
Batista, definhando sozinho na prisão. Pensara na perspectiva diante de Jesus e
Seus seguidores, no mau êxito da missão na Judéia, e na maldade dos sacerdotes
e rabis. Sua própria ocupação lhe falhava; e, ao olhar às redes vazias, o
futuro afigurava-se-lhe sombrio e desanimador." – Ibidem, pág. 245.
Tudo isso era o suficiente para Pedro entrar em
depressão e auto-comiserar-se. Ele havia sido chamado antes por Jesus (Mat.
4:18-22) e presenciado muitos milagres, "mas não havia abandonado de todo
sua anterior ocupação".
Uma grande lição que aprendemos aqui é a extraída do
Salmo 30:5 "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela
manhã". A radiante e majestosa presença de Jesus brilhou na noite
sentimental de Pedro, para transformá-lo e erguê-lo da depressão e da
pecaminosa falta de fé.
Jesus opera o milagre da pesca. O interessante é que
esse relato está no contexto Lucano de libertação do poder do pecado. Mas aqui
Jesus não fala em perdão e nem em pecado. Em que consistia o pecado de Pedro, a
ponto de ele pedir que Jesus Se afaste dele? "Senhor, retira-Te de mim,
porque sou pecador". (Luc. 5:8)
No livro Culpa e Graça o Dr. Paul Tounier nos
esclarece a razão da reação de Pedro, dizendo que ele (Pedro) não se acusa de
uma falha profissional, de não ter jogado as redes no local certo. Ele não diz:
"Cometi um erro", mas "sou pecador". Passamos de uma culpa
de fazer e de seu casuísmo e racionalização interminável, para um plano
totalmente novo, uma convicção de culpa totalmente diferente, a culpa de Ser.
Nesse encontro, Pedro vislumbrou a divindade de Jesus
e entendeu sua própria miséria. Ellen G. White diz que "a presença da
divindade revelou-lhe a própria ausência de santidade. ... A humanidade com sua
fraqueza e pecado, fora posta em contraste com a perfeição da divindade, e ele
se sentiu inteiramente deficiente e falto de santidade". – Ibidem,
pág. 246.
Jesus não o criticou, nem o jogou fora, por Pedro ser
o pecador que era. O milagre de Jesus subordinando as forças da natureza, era
uma lição para Pedro, de que o Senhor tinha poder para subjugar a natureza
pecaminosa e libertar o homem do poder do pecado.
O perdão de Jesus aqui consiste na aceitação do
pecador e na inclusão deste na obra evangelística.
Posteriormente Pedro pecou negando a Jesus. Mas se
arrependeu, não se auto-justificou, e compreendeu que a graça que perdoou uma
vez, o aceitou como se nada houvesse acontecido.
Depois da guerra civil americana, perguntaram para
Abraão Lincoln como ele trataria os Estados rebeldes. Ele disse: "Os
tratarei como se nunca houvessem se separado". (Clifford Goldstein, Hijos
de La Promessa, pág. 62). Assim é a justificação pela fé. Assim Pedro foi
justificado.
Pedro é símbolo de toda a humanidade, e Jesus é
Aquele que convida a entrarem no Seu reino.
A MULHER ADÚLTERA
A história dessa mulher adúltera dispensa muitos
comentários por ser tão conhecida, mas ainda há espaço para tirarmos algumas
lições desse relato em João 8:1-11.
Naquela manhã, diante de Jesus aparentemente havia
dois grupos: O de escribas, e a mulher pecadora. Mas não havia. Diante de Jesus
não há duas categorias humanas, os culpados e os justos; só há culpados.
Na mulher há culpa consciente, e nos escribas e
fariseus culpa reprimida. Deus perdoa e apaga a culpa consciente da mulher. A
culpa reprimida daqueles homens, Jesus a torna pública e consciente e eles a
reconhecem, pois demonstram retirando-se dali.
Esse episódio evoca duas atitudes que o ser humano
pode tomar diante de Deus, aceitar Seu perdão ou rejeitá-lo. A mulher aceitou o
dom de Deus.
A justificação da mulher é o modelo do que Cristo faz
com todos que o aceitam. Nas palavras: "Nem eu tampouco te condeno"
estão o perdão, a justificação, e em "vai e não peques mais", está o
processo da santificação, que é aprofundamento no arrependimento, uma caminhada
da vida toda com vistas à adaptação diária na salvação.
Mas como tudo isso é um dom, não alcançamos sozinhos.
Jesus deu para a mulher e para nós o segredo da santificação, dizendo: "Eu
Sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas..." (João 8:12).
O "vai e não peques mais", não é um
caminhar aleatório. A caminhada precisa ser seguindo a Cristo para a conquista
da perfeição como Ele disse também ao jovem rico, "Se queres ser perfeito,
... vem e segue-me" (Mat. 19:21).
A mulher aceitou o perdão e a culpa já não era um
fantasma para ela. E você e eu, temos feito bom uso do perdão de Deus?
PAI, PERDOA-LHES
Talvez esta seja a maior demonstração de como Jesus
perdoou. Este relato é típico de Lucas, o qual é conhecido como o evangelista
da misericórdia.
Enquanto Mateus termina o Sermão do Monte dizendo:
"sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (Mat. 5:48),
Lucas o termina dizendo: "Sede misericordiosos, como também é
misericordioso vosso Pai". (Luc. 6:36). A misericórdia é o grande atributo
de Jesus em Lucas e esse amor desconhece limites.
Por isso Lucas multiplica as cenas em que a
misericórdia aparece em relevo, conforme apresento na parte de segunda
neste comentário.
Junto com o tema da misericórdia está o tema dos
grandes perdões. O perdão da pecadora arrependida (Luc. 7:36-50); de Zaqueu
(19:1-10); de Pedro (5:1-11); do ladrão (23:42) e da multidão na crucificação
de Jesus (23:34).
Somente neste evangelho aparece Jesus intercedendo
por seus algozes (23:34). Por que Ele o fez? Para mostrar para você e eu que,
por mais grandiosos que sejam nossos pecados Ele pode e quer nos perdoar.
A atitude daqueles ímpios homens nos ensina uma
lição. Jesus fez a intercessão. Mas eles não fizeram confissão (I João1:9) e
nem a aceitação de Jesus (Rom. 8:1). Em conseqüência morreram em seus delitos e
pecados, porque intercessão não faz efeito quando não há interesse da parte por
quem se intercede.
Jesus está agora no Santuário Celestial, de braços
abertos intercedendo por mim e por ti. Qual tem sido a nossa resposta?
Aceitaremos, confessaremos ou sufocaremos Sua voz com o burburinho dos nossos
pecados?
A crucificação é um retrato do que ocorrerá no
segundo advento. O ladrão de um lado representando os que aceitaram o perdão e
ouvirão "Vinde benditos... estareis comigo no paraíso". Do outro, a
multidão e outro ladrão, que zombaram da intercessão e do perdão, ouvirão:
"apartai-vos de mim malditos..." de que lado eu e você estaremos
naquele dia?
Isso vai depender da minha e da tua resposta ao
perdão de Jesus hoje. Que Deus em Cristo nos dê a graça de uma sábia e correta
decisão. Amém.