LIÇÃO 3 – PERDÃO E ARREPENDIMENTO |
Pr.
Samuel Muniz Bastos
Pastor distrital em São Luís, MA
Na semana passada estudamos o perdão na Bíblia
hebraica e vimos quão gracioso, amoroso e perdoador é o Deus do Antigo
Testamento.
Agora, estudaremos sobre o arrependimento como
uma indispensável condição para o perdão e salvação.
Nem sempre, em nossos dias, o arrependimento recebe a
importância que lhe é devida. Portanto, para melhor entendermos cada parte da
lição desta semana, julgo necessário vermos na palavra de Deus a relevância
desse assunto e sua importância para a nossa salvação.
A princípio digo-lhes que as Escrituras dão muito
destaque à pregação do arrependimento, pois essa foi em muitas ocasiões a
mensagem dos profetas do Antigo Testamento: "O Senhor advertiu a Israel e
a Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Voltai-vos
dos vossos maus caminhos e guardai os Meus mandamentos e os Meus estatutos,
segundo toda a lei que prescrevi a vossos pais..." (II Reis 17:13).
"... Ninguém há que se arrependa da sua maldade, dizendo: Que fiz
eu?..." (Jer. 8:6).
"Portanto, dize à casa de Israel: Assim diz o
Senhor Deus: Convertei-vos, e apartai-vos dos vossos ídolos..." (Ezeq.
14:6 conf. Deut. 30:10; Isa. 31:6; 59:20; Ezeq. 18:32).
Na transição dos profetas do Anatigo para o Novo
Testamento, percebemos que para João Batista, "arrependimento" foi o
ponto alto da sua pregação. "Arrependei-vos, porque está próximo o reino
dos céus" (Mat. 3:2).
No ministério de Jesus, a despeito das muitas
realizações e ensinamentos, a pregação do arrependimento também teve seu lugar
indispensável. "Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer:
Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus" (Mat .4:17; Luc.13:3
e 5).
Os discípulos também pregaram arrependimento.
"Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse." (Mar.
6:12).
Essa foi a pregação de Pedro, em particular no dia de
pentecostes (Atos 2:38 e 3:19) e também, na pregação de Paulo, o
"arrependimento" era fundamental. "Testificando tanto a Judeus
como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus
[Cristo]." (Atos 20:21; 26:20).
Pelo que apresentamos até aqui, fica clara a
relevância desse tema em toda a Escritura Sagrada, e que ainda é relevante como
parte da pregação para nossos dias, pois "não levou Deus em conta os
tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda
parte, se arrependam." (Atos 17:30).
Qual a razão da importância do arrependimento na
Bíblia? Porque a Bíblia é a revelação de Deus, e nessa revelação a principal
atividade de Deus é salvar, e isso envolve perdão. Só que "Deus não perdoa
o pecado automática ou incondicionalmente" diz o Dr. Hans K. LaRondelle,
(conf. Jer. 5:3-5 e 7). Faz-se necessário o arrependimento, que é uma condição
absoluta para a salvação. "Se não vos arrependerdes, todos igualmente
perecereis" (Luc. 13:2-5).
Assim, o arrependimento faz parte da pregação
evangélica ao mundo (Luc. 24:46 e 47; Atos 1:8; Mat. 28:19 e 20), revelando o
quanto o Céu está interessado na salvação do homem.
O QUE É O ARREPENDIMENTO?
A definição mais comum apresenta o arrependimento
como uma sincera e completa mudança de mente e disposição com relação ao
pecado.
É essencialmente uma mudança de mente. No Novo
Testamento é apresentado pela palavra grega metanoeó: "mudar a
mente, sentir remorso, arrepender-se" e metanóia: "conversão,
mudança de mente (idéia) arrependimento".
Como diz Henry C. Thiessen, o arrependimento envolve:
– O elemento intelectual, ou seja, uma mudança
de idéia em relação ao pecado, a Deus e ao próprio eu. O pecado passa a ser
reconhecido como culpa pessoal; Deus, como Aquele que exige retidão, e o eu
como maculado e desamparado.
– O elemento emocional, que subentende uma
mudança de sentimento.
– O elemento volitivo, que subentende uma
mudança da vontade e da disposição. É a volta íntima contra o pecado.
COMO ALCANÇAR O ARREPENDIMENTO
Algo fundamental que precisamos entender é que o
arrependimento, tanto quanto a fé, é um dom de Deus (Atos 11:18; 5:31). Diz a
mensageira do Senhor que o "arrependimento é um dom de Cristo tanto quanto
o perdão, e não pode estar presente no coração onde Jesus não esteve em
ação". – Comentários de Ellen G. White, SDA Bible Commentary, vol.
6, pág. 1.056.
E acrescenta ainda: "E nem sequer nos podemos
arrepender sem o auxílio do Espírito de Deus. Diz a Escritura de Cristo: ‘Deus
com a Sua destra O elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o
arrependimento e remissão dos pecados’ (Atos 5:31). O arrependimento vem de
Cristo, tão seguramente como vem o perdão." – O Desejado de Todas as
Nações, pág. 175.
Aqui, entro na parte de domingo e já apresento
alguma coisa sobre terça-feira. Não sigo a ordem cronológica e
sim temática da Lição.
Como se trata de um dom, o arrependimento pode ser
aceito ou rejeitado. Em II Pedro 3:9, está em relevo a misericórdia de Deus
como um dos meios que podem conduzir ao arrependimento.
A misericórdia está no tempo que Deus ainda concede
ao homem e nesse tempo, a misericórdia grita ao pecador mediante a pregação do
evangelho, pois "Cristo atrai o pecador exibindo Seu amor na cruz, e este
suaviza o coração, impressiona a mente e inspira contrição e
arrependimento". – SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1.056.
O arrependimento, como é afirmado na Lição, é a
palavra-chave que separa os vivos dos mortos. No entanto, cabe ao homem, como
agente moral livre, aceitar ou rejeitar os meios que Deus dá e os apelos que
faz para salvar o pecador.
A longanimidade de Deus em II Pedro 3:9 como meio de
chamar ao arrependimento é também uma contundente maneira de mostrar a gravidade
do Seu juízo. É fundamental que não confundamos a paciência de Deus com omissão
quanto ao pecado.
Romanos 2:4 na parte de terça-feira, entra no mesmo
tipo de meios de arrependimento que II Pedro 3:9: a bondade de Deus para
com Suas criaturas.
Antes de comentar como se manifesta essa bondade de
Deus, apresento alguns outros meios usados por Deus, de acordo com a Bíblia,
para conduzir o pecador ao arrependimento.
– A PREGAÇÃO DO EVANGELHO.
"Ninivitas se levantarão no juízo com esta
geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas."
(Mat. 12:41).
"E que em Seu nome se pregasse arrependimento
para remissão de pecados..." (Luc. 24:47).
– A PALAVRA DE DEUS.
"Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco
se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos."
(Luc. 16:31).
A ressurreição de um morto não causaria persuasão ao
arrependimento semelhante à palavra de Deus, se esta fosse ouvida.
– A CORREÇÃO DO SENHOR.
"Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê,
pois, zeloso e arrepende-te". (Apoc. 3:19; Heb. 12:10 e 11).
– CRENÇA DA VERDADE.
"Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um
jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor. ... Viu Deus
o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho..." (Jonas 3:5-10).
– UMA VISÃO NOVA E CORRETA DE DEUS.
"Eu Te conhecia só de ouvir, mas agora os Meus
olhos Te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza." (Jó
42:5 e 6).
– E, FINALMENTE, A BONDADE DE DEUS.
"Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância,
e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento? (Rom. 2:4; II Ped. 3:9).
Em que consiste essa bondade ?
Moisés rogou para ver a glória de Deus, e Este lhe
respondeu que faria passar diante dele toda a Sua bondade (Êxo. 33:18 e 19).
Quando Deus passou, Moisés clamou; "Senhor, Senhor Deus compassivo,
clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade... que perdoa a
iniqüidade, a transgressão e o pecado..." (Êxo. 34:6 e 7).
Se a glória de Deus está em Sua bondade para perdoar,
a cruz de Cristo é o extravasar dessa bondade e glória (João 12:23), pois ali
reside uma fonte eterna de perdão e graça. A cruz é a demonstração plena da
bondade de Deus que conduz ao arrependimento. Mas cabe ao homem, em seu livre–arbítrio,
permitir a ação do Espírito Santo, pois Ele é que convence do pecado (João
16:8), através de algum dos meios acima citados, os quais Deus coloca à
disposição continuamente.
"SER PERDOADO"
Mais uma vez fujo da cronologia da lição pois
apresentarei a parte de quinta-feira junto com a de segunda.
A razão é simples. Os temas de segunda e
quinta são estritamente inseparáveis. Ambos estão no contexto da
justificação pela fé.
A justificação pela fé, além de uma doutrina, é uma
experiência a ser vivida. E parece difícil ao homem aprender a viver a
realidade de que somos salvos pela graça (Efés. 2:8).
"Embora o arrependimento preceda o ato de
perdão, o pecador não consegue, mediante o arrependimento, fazer-se merecedor
das bênçãos de Deus. Efetivamente, o pecador não pode, de si próprio, operar o
arrependimento – este é um dom de Deus (Atos 5:31; cf. Rom. 2:4). O Espírito
Santo conduz o pecador a Cristo, de modo que ele possa encontrar o
arrependimento, ou verdadeira tristeza pelo pecado cometido." – Nisto Cremos,
pág. 171.
Não devemos tornar o arrependimento uma sutil forma
de salvação pelas obras. Isso a igreja católica é que faz, pois a versão da
Bíblia Douay traduz metanóia como fazer penitência. Numa nota de rodapé
acerca de Mat. 3:2 está escrito: "Essa palavra, de acordo com as
Escrituras e os santos pais, não somente significa arrependimento e
regeneração, mas também punir os pecados através de jejum e outros exercícios
penitenciais." Mas esse não é o significado bíblico do termo.
Em suma, quando vemos o arrependimento à luz das
parábolas da ovelha e da dracma perdida em Lucas 15, percebemos que o
"arrependimento é em tão pequena proporção uma ação humana que prepara o
caminho para a graça, que ele pode ser colocado no mesmo nível do fato de ser
encontrado." – Kenneth Bailey, As Parábolas de Lucas, pág. 205.
Aprender a ser perdoado se resume à apreensão e
vivência prática do fato que "é unicamente pelos méritos de Jesus que
nossas transgressões podem ser perdoadas. Aqueles que não sentem necessidade do
sangue de Cristo, que acham que sem a graça divina podem pelas suas próprias
obras conseguir a aprovação de Deus, estão cometendo o mesmo erro de
Caim." – Patriarcas e Profetas, pág. 73.
TRISTEZA SEGUNDO DEUS
Talvez a melhor forma de entender "a tristeza segundo
Deus", seja tendo uma visão mais profunda do pecado e suas implicações, o
que nos ajuda a nos posicionarmos. E uma dessas posições é o crescimento no
arrependimento.
Geralmente dizemos que arrependimento é sentir
tristeza pelo pecado e não praticá-lo mais.
O princípio dessa "tristeza segundo Deus"
consiste numa olhada para o pecado passado. Essa tristeza está relacionada com
as emoções, e isso é visto no exterior, no comportamento.
Mas a "tristeza segundo Deus", o
arrependimento, não é só isso. É uma olhada para dentro, para a fonte do mau
procedimento e uma conseqüente avaliação da semente do pecado e revolta contra
a semente.
O Dr. Wilson Endruveit, em palestra sobre esse
assunto, esclarece bastante quando afirma que se o pecado é o ódio, o arrependimento
deve ser uma avaliação do ódio e suas conseqüências.
A "tristeza segundo Deus" é o
aprofundamento no arrependimento, o que também é santificação. Entretanto, isso
só acontece quando nos aproximamos mais de Jesus, o que nos mostra nosso senso
de indignidade e nos aprofunda no arrependimento (ver Ellen G. White, Atos
dos Apóstolos, pág. 561).
A conseqüência desse "aprofundar" no
arrependimento, que é tristeza segundo Deus, será reagirmos contra a semente
como se já fosse a colheita, ou seja, tristeza pela cobiça, como se fosse o
adultério; tristeza pelo ódio como se fosse homicídio, tristeza pelo mau
pensamento como se já fosse ação.
Portanto, a tristeza segundo Deus, embora inclua as
conseqüências ou frutos do pecado, vai mais fundo, ao princípio (à semente) do
pecado.
Somente a graça de Jesus, através de uma comunhão
viva e diária, nos capacita a tomarmos uma posição de arrependimento pelo
pecado.